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Dermatoses relacionadas ao trauma psicológico

Os eventos que ocorrem todos os dias na vida das pessoas ficam gravados na memória. Alguns permanecem facilmente acessíveis à recordação, a maioria vai para algum nível profundo. Nenhum deles desaparece da linha do tempo da vida de cada ser humano.

Tanto é assim que, às vezes, por um fato qualquer do presente ou por um assunto associado ou por uma introvisão repentina, as pessoas se lembram de acontecimentos há muito tempo não recordados. Buscando eventos passados, pode-se relembrar a primeira escola, a primeira professora, o nome de algum colega daquele tempo, do qual nunca mais se teve notícia, a casa em que se viveu aos três, dois ou menos anos de vida, algum fato específico ocorrido em idade muito precoce.

É de notar que não é preciso que sejam eventos graves ou traumáticos. São eventos comuns que podem aflorar à memória atual por um simples exercício de retorno no tempo. Isso mostra como tudo está gravado em algum lugar do cérebro ou da mente, supondo-se que a mente exista separada do cérebro e com a capacidade de influenciá-lo.

A cada dia as pessoas vivem eventos prazerosos e eventos desprazerosos. Constantemente buscam-se os primeiros e tenta-se evitar os últimos. Estes, porém, não são sempre negativos. Se deles se extrair um aprendizado útil para a vida, que possa funcionar como facilitador dos dias futuros, tem-se uma experiência de vida. Se com eles não se aprende, forma-se um trauma e isso cria uma carga emocional negativa, que se manifestará com sintomas variados sempre que algum fato futuro tenha alguma relação com o original.

Pode ocorrer com acontecimentos muito simples, como um corriqueiro comentário da mãe ou do pai, que seja sentido como uma desqualificação ofensiva ou humilhante. Por exemplo: uma mulher era tomada de emoções de despeito e raiva sempre que se defrontava com outra que tivesse cabelo que ela achasse bonito. Esse estado interno tinha sua origem numa ocasião na infância, quando a mãe a chamou de “cabelo de arame”. Ao invés de elaborar esse comentário a seu favor e procurar deixar seu cabelo de um modo que a agradasse, ela ficou congelada naquilo que soou como menosprezo e foi afetada por esse trauma por muitos anos.

Em outras situações, as pessoas passam por acontecimentos sérios, que, por sua própria natureza, causam impacto emocional realmente esmagador. É o caso de abuso sexual, acidente grave, assalto ou seqüestro, incêndio, guerra, catástrofe natural. Assim ocorreu com sobreviventes do tsunami da Ásia, do conflito de Kosovo e ocorre todos os dias nas grandes cidades com pessoas atingidas por bandidos, assaltantes, estupradores ou por desastres automobilísticos, ferroviários, aéreos.

Tanto os acontecimentos simples quanto os catastróficos, ao serem armazenados como traumas, geram um estresse superior à capacidade do indivíduo de lidar com ele e daí se origina uma memória disfuncional, que carrega percepções sensoriais e pensamentos presentes no momento do fato. É o que se chama distúrbio do estresse pós-traumático.

Trauma psicológico pode gerar sintomas cutâneos

Esses traumas psicológicos podem provocar sintomas dermatológicos crônicos e recorrentes, que persistem mesmo após o trauma ter desaparecido. Madulika Gupta e colaboradores, do Departamento de Psiquiatria da University of Western Ontario, em London, Canadá, em artigo publicado no Dermatology Clinics, em 2005, cita as seguintes alterações da pele ligadas ao estresse pós-traumático: sensações cutâneas esparsas, que podem ser o componente sensorial da experiência traumática; excitação autonômica com sintomas como sudorese profusa ou erupção de uma dermatose subjacente ativada pelo estresse; sintomas de conversão, como dormência, dor ou outros sintomas cutâneos medicamente inexplicáveis; e auto-agressão cutânea, como tricotilomania (arrancar os próprios cabelos), dermatitis artefacta (paciente simula lesões da pele se auto-flagelando), escoriações psicogênicas.

De alguma maneira, os traumas provocam alterações funcionais em áreas do cérebro, que ficam gravadas permanentemente. Uma pesquisa de R.A. Lanius e colaboradores (American Journal of Psychiatry, 2001) verificou qual o circuito subjacente ao distúrbio do estresse pós-traumático utilizando ressonância magnética funcional. Os pacientes atingidos por esse distúrbio mostraram ativação de áreas do cérebro significativamente menor do que os pacientes sem estresse pós-traumático, o que indica que uma disfunção destas áreas está por trás da alteração emocional clinicamente observada nesse estado.

Aparentemente, os eventos da vida, que não serviram para aprendizado, geram defeitos funcionais do cérebro e estes se repetirão sempre, inconscientemente, prejudicando o desempenho futuro da pessoa.

É preciso tratar também o emocional

Para resolver as dermatoses relacionadas com o trauma não basta o tratamento cutâneo. É preciso mudar a carga emocional gravada e transformar a interpretação do evento traumático, dele extraindo uma experiência útil. O uso adequado de psicofármacos, aliado à aplicação de técnicas terapêuticas de reprogramação é o tratamento mais efetivo.

Os medicamentos servem para atenuar o nível de ansiedade que a lembrança do trauma ativa. As técnicas terapêuticas modificam a causa-raiz do problema e levam a uma reinterpretação do fato favorável à pessoa. Essa transformação da carga emocional negativa pode ser conseguida em prazo curto e não há razão para ser demorada, uma vez que o trauma se instala, às vezes, em fração de segundo de uma vivência.

A cura, portanto, também pode ocorrer instantaneamente, desde que o cérebro encontre outro caminho neuronal para a mesma experiência conforme o novo significado que lhe é atribuído. Só com essa desativação emocional pode a pessoa livrar-se da dermatose relacionada ao trauma psicológico.

Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista Sócio Titular da SBD

 

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Dr. Roberto Barbosa Lima

Médico Dermatologista

Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.

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