Menu

Pesquisar

Psicodermatoses: psicoterapia ou medicamentos?

Apesar da psicanálise ser aplicada há um século e psicoterapias diversificadas serem usadas há décadas e, atualmente, cada vez mais, muitos médicos ainda têm dúvidas sobre sua eficácia.

A despeito de todas as novas descobertas trazidas pela psiconeuroimunologia, que indicam que mente e corpo são uma unidade de funcionamento indivisível, a psicoterapia é um ponto cego no currículo de formação médica e informações sobre psicoterapia são praticamente inexistentes. De modo que os médicos tendem a não valorizar a psicoterapia por desconhecer seu alcance, seus tipos e como funciona no organismo.

Hoje, entretanto, com as novas noções da integração mente-corpo baseadas nas neurociências, a psicoterapia tem que ser considerada parte dos recursos médicos no tratamento de doentes. Quando um trauma afetivo gera um estado bioquímico capaz de se manifestar por um quadro clínico é óbvio que a condição psicológica faz parte dos sinais e sintomas definidores da doença em foco.

Nessa situação, tratar só o efeito no físico, que é o que está conscientemente fazendo mal ao paciente, vai deixar a origem intocada e, logicamente, a possibilidade aberta para a manutenção do distúrbio ou seu ressurgimento. Portanto, os cuidados devem ser dirigidos tanto ao corpo atingido quanto ao psiquismo abalado. A dúvida que restaria seria quanto ao método de tratamento, se psicológico ou farmacológico, ou seja, dirigido à mente ou ao cérebro.

Ambos os métodos são úteis

No presente momento, sabe-se que ambos os métodos são úteis e, muitas vezes, devem ser aplicados conjuntamente. Os pensamentos influenciam a função cerebral e, por outro lado, a constituição física do cérebro condiciona a capacidade de pensar.

O Dr. Daniel G. Amen, no livro Transforme Seu Cérebro, Transforme Sua Vida (Ed. Mercuryo) já relatou que, por meio da tomografia computadorizada, pôde verificar que muitos distúrbios psicológicos, como ansiedade, depressão, falta de atenção, mau humor, incapacidade de terminar as coisas, dificuldade de expressar sentimentos, manutenção de mágoas, inflexibilidade cognitiva, vontade de discutir, falar demasiadamente, negativismo e muitos outros têm relação com o funcionamento de partes específicas do cérebro.

Esse funcionamento é condicionado por crenças implantadas na infância, traumas psicológicos vividos, traumatismos cranianos ou características próprias do cérebro de cada um. Em seus tratamentos, o Dr. Amen utiliza medicamentos e técnicas psicológicas conjuntamente .

Psicanálise pode alterar a rede de células cerebrais

A Dra. Susan C.Vaughan, psiquiatra em Nova York, no livro A Cura Pela Fala – A Ciência por Trás da Psicoterapia (Ed. Objetiva), afirma que há evidências científicas de que a psicanálise altera a conexão dos neurônios cerebrais entre si e que “ela de fato pode alterar a rede de células neurológicas na massa cinzenta do córtex cerebral. Acumulando-se ao longo do tempo, essas transformações físicas no modo de conexão dos neurônios ajudam a produzir novas representações internas de si mesmo e do outro, alterando os padrões neurais arraigados de relações estabelecidas na tenra infância.”

Assim, a psicoterapia seria a exploração e transformação das conexões existentes entre os neurônios interligados do córtex superior, o que faria a psicoterapia modificar, inicialmente, as conexões funcionais entre os neurônios para, depois converter essas transformações em mudanças na estrutura concreta do córtex cerebral.

Medicamentos atuam na função cerebral mas têm efeitos colaterais

Por outro lado, os medicamentos atuam diretamente na função cerebral por vários mecanismos: interferência na síntese de neurotransmissores, bloqueio da captação dos neurotransmissores, bloqueio dos receptores pós-sinápticos, imitação da ação dos neurotransmissores, liberação ativa dos neurotransmissores, bloqueio da liberação dos neurotransmissores, bloqueio da recaptação dos neurotransmissores, inibição de enzimas que metabolizam neutotransmissores.

O resultado são mudanças nos movimentos e nos sentimentos do paciente. Todo medicamento, porém, provoca efeitos colaterais, os quais muitas vezes vêm antes do efeito desejado. Isso é um fator que dificulta a persistência do paciente no tratamento.

Como são evidentes os resultados com psicoterapia, muitas pesquisas vêm sendo desenvolvidas para descobrir se ela age na estrutura cerebral, fato que justificaria as mudanças nos pensamentos e comportamento dos pacientes.

Estudos já comprovam ação da psicoterapia no cérebro

Linden, da Escola de Psicologia da Universidade de Gales em Bangor, Reino Unido, em artigo publicado, focalizando estudos em transtorno obsessivo-compulsivo, fobias e depressão, o autor relata terem sido observadas evidentes modificações em áreas diversas do cérebro pela aplicação da terapia cognitivo-comportamental, hipnose e neurofeedback. A terapia cognitivo-comportamental visa gerar mudanças por meio de correção de padrões de pensamentos viciosos e criação de novos hábitos. A hipnose busca induzir estados mentais curativos. O neurofeedback objetiva diretamente a regulação da atividade de uma área específica do cérebro.

Tudo isso indica que a psicoterapia tem ação efetiva sobre o cérebro e, dessa maneira, leva a mudanças de pensamentos, emoções e comportamentos. Diante disso, os médicos não deverão mais ter motivos para pôr em dúvida a efetividade da psicoterapia.

Os medicamentos alteram a maneira de sentir, a psicoterapia transforma vidas

Os medicamentos muitas vezes têm ações iguais às da psicoterapia, outras vezes, diferentes. O resultado final é complementar, pois, segundo a Dra. Vaughan, os medicamentos alteram a maneira de sentir das pessoas, mas a psicoterapia é que transforma suas vidas.

Em algumas psicodermatoses, como escoriações e prurido psicogênicos, psoríase, vitiligo convém o uso de medicamentos e de psicoterapia. Em outras, somente os medicamentos resolvem, como nas ilusões de parasitoses. Em outras, a psicoterapia isolada é capaz de eliminar a causa da dermatose, como em casos de urticária de origem emocional.

Portanto, ao tratamento dermatológico devem ser associados, conforme o caso, medicamentos com ação sobre o cérebro e técnicas psicoterápicas. Essa integração potencializa a terapêutica e permite alcançar resultados mais consistentes .

Colaboração: Dr. Roberto Azambuja – Dermatologista Sócio Titular da SBD

Dr. Roberto Barbosa Lima

Médico Dermatologista

Especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.

Saiba mais

O câncer de pele tem cura

Não atrase o diagnóstico

Surgiu um sinal novo? Não perca tempo! O câncer de pele, quando tratado precocemente, pode ser curado.

Saiba mais

Desenvolvido por Visana Comunicação